
Não vou mais usar a letra em itálico, fica ruim de ler.
"3 de maio, segunda-feira.
A Biblioteca estava fechada no recreio, e eu tinha planejado ler 'Uma Mente Inquieta' hoje. Fiquei descendo e subindo as escadas pensando no que fazer para aproveitar o recreio da melhor forma. Vi um banco vazio no andar térreo mas fiquei com vergonha - eu sei que é idiotice - de ser vista sentada sozinha lendo no meio da multidão. Finalmente, tentei me convencer de que era invisível e ninguém naquela escola estaria interessado o bastante na minha vida para me ver entrando numa cabine de banheiro com um livro na mão e demorando um tempo maior do que o normal para sair.
A porta do banheiro estava fechada, mas não vi nada de mais naquilo, entrei e encontrei um grupo de meninas conversando e tirando fotos no espelho. Fingindo grande naturalidade, entrei numa cabine, sentei em cima da privada fechada e comecei a ler. Depois de alguns minutos, porém, percebi que as meninas demoravam a sair e comecei a pensar em por quanto tempo elas ficariam ali. Foi então que vi um tênis branco por baixo da porta e a pessoa começou a bater na porta dizendo: "Tem alguém aí? Quem está aí?" Ela se virou para comentar alguma coisa com as amigas e uma outra delas falou: "A gente não é cega tá, a gente sabe que você está aí."
Pensei que seria tão vergonhoso se eu saísse na hora quanto seria se eu continuasse ali me escondendo, então fiquei ali reunindo coragem por alguns instantes e tentei sair da cabine como se nada tivesse acontecido. Caminhei até a pia olhando para a frente e sentindo os olhares e risinhos e cochichos das meninas direcionados a mim, lavei as mãos numa última tentativa de mostrar que eu realmente havia entrado num reservado por motivos normais, saí do banheiro e consultei meu relógio - ainda faltava muito para bater o sinal. Me arrastei até a mesa onde se reúnem as meninas da minha sala e, sem olhar para elas, me sentei resignada com o meu livro deitado à minha frente. Fiquei olhando para ele por algum tempo, peguei-o para ler e bateu o sinal."
Afinal, qual o problema daquelas meninas? Eu tenho todo o direito de permanecer no lugar que eu quiser por quanto tempo eu quiser, afinal, eu não estava incomodando ninguém.
ALNS