Antes, estudar sete dias por semana era um hábito inquebrável para mim, diria até - acreditem - um vício. Agora, sinto que não tenho o mesmo "pique" de antes, acho a maior chateação ter que estudar todos os dias, até porque agora é por uma obrigação que me é imposta externamente, não só por mim mesma, mas pela sociedade (passar no vestibular). Principalmente porque estudei a vida toda em colégio particular.
Hoje tive um leve desentendimento com a minha mãe e fiquei pensando em um monte de coisas ruins na aula e em casa, não só em relação a ela, mas também sobre qualquer pessoa que tenha passado na minha vida. Cheguei a sonhar que no futuro viveria isolada num apartamento cheio de gatos ou cachorros, o que seria melhor do que viver entre gente, afinal - pensei - é melhor encarar a solidão do que arranjar problema com pessoas, já que lidar com o ser-humano é tão difícil. Eu realmente consigo me botar pra baixo às vezes.
Como era de se esperar, não consegui me concentrar no interessantíssimo estudo da fisiologia vegetal, então comi pra caramba e peguei meu livro "As Meninas da Esquina". É o relato do dia-a-dia de seis meninas da favela que nasceram pobres e de famílias desestruturadas, que lidam precocemente com assuntos como gravidez, prostituição, drogas e tráfico. Sempre pego esse livro quando me sinto um tanto insatisfeita, não com a vida, mas comigo mesma, pois acompanhar a luta diária dessas meninas que vivem num mundo completamente diferente do meu me faz olhar ao meu redor e perceber o quanto eu sou privilegiada e tenho pelo menos uma expectativa de futuro, e me faz querer agradecer por cada pedacinho da minha vida. Tira os meus pensamentos de mim mesma e os direciona para o que mais importa: os outros.
Uma das coisas que mais tem me impressionado neste livro é o quanto essas meninas amam as suas famílias (o que resta delas) e a confiança que elas têm em Deus, mesmo apesar de toda a vida miserável que elas levam. A vida não lhes tira a humanidade, e isso é o que eu mais admiro nas mulheres. Que me desculpem os homens, mas as mulheres são demais.

