quinta-feira, 15 de julho de 2010

As Aventuras de Uma Sociofóbica


Hoje no basquete, só joguei com meninos.
Eram times de três pessoas e usaríamos somente a meia-quadra. A menina de 8 anos foi escolhida antes do que eu. Depois, o menino loirinho da 7ª série (por quem nutro um amor platônico disfarçado em desprezo, ou, no mínimo, indiferença) apontou para mim e falou, com aquela voz de menininho bochechudo com cara de anjinho: "e eu escolho VOCÊ".
Durante o jogo, a cada movimento certo que eu fazia - um em cada 784327982347 errados -, o menino loirinho se dava ao trabalho de, em meio ao caos de uma partida de basquete de meninos pré-adolescentes de bigodinho ralo, OLHAR para mim e dizer coisas como "BOA, ALNS!" ou "VALEU, ALNS!". Eu, que já fico emocionada quando alguém lembra o meu nome, fiquei tão lisonjeada que comecei a ter pânico de errar qualquer coisa, de atrapalhar o time, de arruinar o jogo; na verdade, só o fato de eu ESTAR ALI já trazia uma espécie de azar, já que os meninos começaram a discutir e a levar às ruínas uma amizade cultivada há anos (ou, quem sabe, há algumas aulas de basquete). E foi aí que, depois de eu milagrosamente ter feito a primeira cesta do nosso time, só comecei a fazer coisas erradas, a perder bolas, a não fazer passes, a arremessar a bola a quilômetros de distância da cesta. Aliás, não quero culpar a genética, mas a minha deficiência visual estava mais aguçada do que nunca hoje, e eu estava tão muda que não conseguiria responder às perguntas dos meus colegas nem que eles fossem o Silvio Santos e elas valessem 1 milhão de reais. Assim como um vômito que não sai, as palavras iam, todas embaralhadas, até o topo do meu esôfago e depois desistiam, retornando ao local de onde vieram (neste caso, a minha confusa e perturbada mente). Após, porém, ter engolido certa dose de "simancol" - e de ver o meu time perder de 5 a 7237982378932 por causa de mim -, resolvi sair de fininho, sentar no banco, disfarçar um pouco enquanto vestia o meu casaco e punha os meus óculos de volta - detalhe: enquanto isso, um outro menino loirinho de chuteira se sentou do meu lado e perguntou as horas. 15 segundos se passaram até as minhas pupilas dilatarem, minhas mãos suarem, meu coração bater mais forte, eu olhar uma, duas vezes o visor do meu relógio e eu finalmente conseguir responder àqueles olhos hipnotizantes que eram 3 horas e 50 minutos, dando logo a seguir um suspiro de alívio e constrangimento do tipo: "eu acabo de bancar a pateta pela milésima vez, mas ainda bem que acabou". Depois disso, parei de enrolar e saí do ginásio fingindo ligar para alguém do celular - que estava desligado.

Fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores