sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A Vida e Profissões que Tiram a Fome

Marya Hornbacher, em mais um de seus livros de memórias, "Madness", diz que, assim como alguns cachorros poderiam comer e comer sem parar até a morte, ela poderia fazer o mesmo em relação ao ato de escrever. Eu gostaria de encontrar uma atividade da qual pudesse falar a mesma coisa. Acho que minha realização profissional se daria quando eu encontrasse uma atividade que me fizesse esquecer de comer, ou até de dormir (como é o caso do meu irmão com seu videogame). Confesso que, apesar de eu estudar muito e, provavelmente, venha a desempenhar uma atividade intelectual e sedentária no futuro, meu sonho é trabalhar em algum lugar em que eu possa me locomover muito, de um lado para o outro, ou simplesmente ficar de pé. Acho que eu deveria sonhar com o emprego aonde quero chegar, mas prefiro sonhar com o primeiro emprego, aquele que a gente faz quando está na faculdade ou quando simplesmente está querendo ter seu próprio dinheirinho. Meu "sonho de primeiro emprego", quando criança, era trabalhar nos "bastidores" do McDonald's e, recentemente, tenho considerado trabalhar na livraria de um shopping aqui perto de casa. Assim eu ficaria perto de uma das duas coisas que mais amo na minha vida - a comida e os livros.

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Eu estava caminhando pela cidade com os meus pais e o meu cachorro, quando vi na rua, falando alto e fazendo baderna, um grupo de meninos que fazem basquete comigo. Fiquei observando eles e pensando no quanto eles deviam estar se divertindo, do mesmo modo como eu me divertia indo ao shopping depois da aula com as minhas amigas quando eu estava na sétima série, mais ou menos na idade deles. Fiquei pensando que nessa idade a gente é meio bobo, principalmente se você é popular na escola, bonito(a) e bom de conversa, como eram aqueles meninos. Acontece que tudo muda quando você chega no Terceiro Ano do Ensino Médio e é obrigado a encarar o vestibular, o primeiro grande desafio de sua vida. E aí a vida dá uma reviravolta e você percebe que o tempo todo ela esteve lhe pregando uma peça. Porque agora é a hora em que você começa a olhar as outras crianças, as excluídas, as gordinhas, as esquisitas, as que tiveram que canalizar suas atividades para outras coisas que não festas, namoro e baderna nas ruas - já que elas não eram legais o bastante pra isso - com outros olhos. Pode chegar até mesmo a admirá-las um pouco. Afinal, elas estão no topo agora. Elas entendem a matéria. Elas estão tranquilas. Elas não eram tão bobas assim, afinal. Não importa o quão mal elas se vistam, ou quantas pessoas elas (não) tenham beijado, ou a quantas festas elas (não) tenham ido, elas vão passar no vestibular, caramba! E é isso que importa agora. É isso que importa para os seus pais, que pagaram colégio caro para você a vida toda; é o que importa para os seus professores, que olham para você e pensam: "tá ferrado"; e é o que importa, talvez, para você mesmo. Ou para um "você" do futuro, que provavelmente olhará para uma menininha estudiosa e irá parabenizá-la, dizendo a ela que continue estudando, e que "na sua idade, eu não era assim". E assim é a vida. Os "legais" de ontem, a não ser que consigam montar uma banda de rock de sucesso, talvez estarão bem encrencados amanhã, e estarão assistindo - com direito a "dor-de-cotovelo" e tudo - enquanto os desajustados se graduam em faculdades públicas, alcançam a estabilidade financeira - ou não, porque a coisa tá feia - e percebem que, o tempo todo, não eram o lixo que julgavam ser, e que valeu a pena ter ficado em casa estudando feito "um bobo" enquanto os outros se divertiam.

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