sexta-feira, 17 de junho de 2011


Tive um mal dia hoje. Um dia improdutivo - fora o meu horário de trabalho, em que não tenho nada a fazer, a não ser trabalhar - vazio, insípido.
Tudo começou com um bolo descoberto e uma louça usada na mesa, que simplesmente estragaram o meu dia.
Quando minha mãe está viajando, eu, POR SER MULHER, fico encarregada de todas as tarefas domésticas, enquanto meus dois irmãos HOMENS ficam encarregados de... assistir TV (?) enquanto eu lavo, passo, cozinho, varro, etc etc o dia inteiro (como se eu não tivesse uma vida também). Minha família é um tanto tradicional (leia-se: meu pai trabalha fora e minha mãe é dona-de-casa).
Acordei um tanto revoltada com isso essa manhã, nunca aceitei nem nunca vou aceitar as atitudes e pensamentos machistas do meu pai e, pensando nisso, cheguei à cozinha para tomar o café da manhã quando vi um bolo com a tampa da embalagem aberta, uma xícara de café usada e um prato sujo com um guardanapo usado por cima. Eu sabia que era do meu pai. Nesta hora, a revolta tomou conta de mim e pensei: "QUEM ELE PENSA QUE EU SOU?! Empregada dele?!! Como ele quer que o filho ajude em casa se ele SEQUER tira o prato da mesa?!" Fiquei com tanta raiva que soltei um berro e taquei o prato no chão, espalhando estilhaços de falsa porcelana por todo o chão da cozinha. A ira esgota energias, e eu já estava bufando de cansaço. Sentei à mesa e pus a cabeça entre os braços um pouco. Liguei a televisão. "Talvez seja o baixo teor de açúcar no sangue" pensei, sobre a minha irritação matinal, e comecei a comer. E comi, e comi. Eu tinha de ir à academia nessa manhã, subi para mudar de roupa mas a minha barriga doía. Não queria ir me exercitar depois de comer tantas besteiras. Voltei para a cozinha, lembrando que não adiantava nada eu guardar toda aquela mágoa dentro de mim sem falar nada, sem fazer o meu pai saber que eu não concordava com as suas atitudes, então fui pegar o telefone para ligar para o trabalho dele. Com este em mãos, ensaiei mentalmente, algumas vezes, o que falaria para ele. Falaria para ele fechar os potes e embalagens de comida quando tivesse usado, falaria sobre dar exemplo para os filhos (homens), falaria também que, por ser dotado de dois braços, duas pernas e boas condições mentais, ele poderia muito bem pegar comida da geladeira à noite e esquentar no microondas para o jantar, ao invés de esperar que eu chegasse em casa às dez da noite do trabalho e ainda fizesse o jantar.
Mas a minha coragem e ousadia se esvaíram totalmente assim que eu ouvi o seu "Alô?" do outro lado da linha. Fiquei com medo da reação dele. Da resposta dele. E desliguei. Ele retornou a ligação duas vezes, mas eu rejeitei a chamada.
Varri estilhaços de prato do chão e subi para o meu quarto, deixando a cozinha desarrumada do jeito que estava. Passei o resto da manhã vendo besteiras que não acrescentam nada na internet, só olhando para o relógio, vendo que o horário do almoço estava chegando e pensando: "tenho que fazer o almoço, tenho que fazer o almoço". Mas, quando deu meio-dia, ao invés de correr para fazer alguma coisa, peguei minha mochila, dinheiro e "fugi" de bicicleta, sem ser vista por ninguém de casa. Eu queria comer alguma coisa, então fui até o shopping, chorando um pouco no caminho, me odiando profundamente por não ser capaz de arcar com minhas (?) responsabilidades, por ser uma inútil, por ser escrava do meu humor sombrio, por não ser capaz de me expressar e enfrentar o meu pai e o seu machismo. A praça de alimentação estava cheia, e morri de medo de encontrar alguém conhecido, não estava a fim de falar com ninguém, nem ser vista por ninguém de tão feia que estava, parecendo uma velha. Toda aquela gente bem vestida me intimidava, todos andando em grupos, todos parecendo tão confiantes, fazendo do almoço um horário especial. Quando estou feia e deslocada, sempre acho que todos estão olhando para mim e rindo de mim, e eu me sentia muito desconfortável no meio de toda aquela gente.
Ainda fui para o Centro de Eventos da universidade e comi uma torta enorme, que me fez sentir pesada e terrivelmente gorda. De repente eu quis estar em casa de novo, ainda tinha algum tempo antes do trabalho e queria me sentir em casa, confortável, longe de aglomerações. Meu pai e meu irmão mais velho já haviam saído, e eu nem quis olhar a cozinha para ver como as coisas estavam por lá, como eles haviam se virado no almoço.
Fiquei um tempo assistindo a videos do Jamie Oliver no YouTube e depois fui trabalhar.
Trabalhei normalmente, não queria que as minhas más vibrações afetassem o meu desempenho, ao mesmo tempo em que gostaria de falar sobre aquilo com alguém, eles são as únicas pessoas com quem tenho me relacionado nas últimas semanas. Queria chorar, mas não poderia trazer questões pessoais e existenciais ali pra dentro.
Me sinto horrível, ingrata, reclamona, e muito sozinha.

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