(continuação)
Nessa viagem solitária a Jurerê Internacional (que mais parece um bairro fantasma quando não está em alta temporada), procurei fazer todo o percurso que eu e a J. fizemos na minha desastrada ida à sua casa há um tempo atrás. Partindo de seu apartamento na Av. B., passando por todas aquelas casas bonitas – e inabitadas – até o Open Shopping, saindo do Open Shopping e passando pelo supermercado Imperatriz, depois o deck onde fica o Haikai (restaurante japonês onde comemos Yakisoba – ela – e Yakimeshi – eu – e tomamos nossa saqueirinha de Morango, por indicação de nossa chefe), o posto de gasolina (onde compramos chocolates twix para aliviar o efeito do álcool) e, finalmente, a praia, que estava bem mais cheia do que naquele dia, à meia-noite. Não fiz o trajeto exatamente na mesma ordem – afinal, me perdi algumas vezes no caminho – mas fiz questão de passar por cada lugar e visualizar uma baixinha de tênis adidas gasto, calça jeans e um sweater vermelho emprestado e uma menina alta, negra, de pernas longas, com um cabelo black power que se destacaria em qualquer multidão, uma calça roxa comprada na Viés – e que lhe caía muito bem – mocassins e cachecol salmão, caminhando lado a lado no escuro e contando uma à outra tudo o que haviam aprontado desde a puberdade.
Quando estava indo para a praia depois de um suco “Xô TPM” e um empanado integral de ricota e cenoura numa das únicas lojas que estavam abertas no bairro naquela segunda-feira ao meio-dia, um ônibus lotado de bonitos e sadios jovens argentinos, na casa dos 17-18 anos foi descarregado. Fiquei observando-os atentamente, tentando imaginar o quão ricos eram seus pais para mandá-los a uma viagem da Argentina para Jurerê Internacional (provavelmente uma viagem de formatura do Ensino Médio). Suas roupas e cabelos eram estilosos, e eles andavam pelas ruas com propriedade, como se já conhecessem o lugar e aquilo tudo não fosse nada de mais.
Havia trocado a calça comprida bege e o tênis careta por um short de nylon azul e chinelos, e dei algumas voltas na praia – sem saber ao certo para onde ia – com os pés na água, incomodada pela ausência de sombra naquele lugar, e pela falta que eu sentia de um chapéu, um óculos de sol e um filtro solar. Não demorei muito ali, afinal, já havia ido a todos os lugares que queria, e a praia era o Ponto Final.
Exausta pelas longas caminhadas sem direção certa sob o Sol escaldante, sentei-me no primeiro ponto de ônibus que pude encontrar. Pensei em ir ao ponto mais próximo à casa da Jamille, no qual peguei meu ônibus de volta na última visita, mas a senhora para quem havia pedido informação dizia que o ônibus que eu esperava já estava para chegar.
Depois que me sentei no ônibus e ele partiu, e vi a casa da J., mais uma vez, passar por diante dos meus olhos, chorei um pouco por ter estado (permita-me a frase feita) tão perto dela, mas tão longe ao mesmo tempo, e por ela ser a minha única amiga aqui em Floripa e por não ter “desistido” de mim e gostado de mim mesmo eu sendo um vegetal de tão tímida e uma velha de tão chata, e faltam poucos dias para eu ir embora, e só vou poder observar de longe enquanto ela se torna uma jovem cada vez mais determinada e madura – mas, tanto que ela esteja feliz, tudo bem.

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