Não sei por que sempre senti essa necessidade de aprovação pelo meu pai.
Desde que eu era criança até pouco tempo atrás, se meu pai criticasse alguém eu não gostava da pessoa, se ele não risse com um programa de televisão eu também não achava graça, e se ele declarasse qualquer coisa a respeito de qualquer assunto aquilo era lei para mim.
Eu até achei que havia me livrado disso, mas vejo que não. E mais: deixou de ser respeito para virar medo.
Ontem, por exemplo, nós estávamos tomando café quando passou uma reportagem na televisão sobre problemas de saúde relacionados ao excesso de peso e a uma alimentação desequilibrada. Ele apontou para a TV e depois para o bolo que eu e a minha mãe havíamos feito para o aniversário do meu irmão e disse: “Aí, ó.É por causa disso que essas coisas acontecem!!”.
Incrível mas, quando vi, eu já estava chorando. Não deu nem tempo de ir ao banheiro discretamente para secar as lágrimas, eu tinha que começar a chorar do nada bem ali, na frente dos meus pais.
Pus de lado o pão inteiro que estava comendo e me levantei para pegar um suco na geladeira. Enchi metade da minha caneca, olhei para ela e não consegui beber sequer um gole. Saí da cozinha.
Porque era eu que havia engordado nove quilos nos últimos tempos por alimentar diariamente o meu vício por açúcar; porque era eu que havia ajudado minha mãe a preparar os doces do aniversário do meu irmão, e por isso era eu uma pessoa errada, que fazia tudo errado, que não dava a mínima para a minha saúde aos olhos de meu pai.
E se para o meu pai eu estou errada, eu sou, de fato, uma pessoa errada.
Quando eu tive meu primeiro namorado, a cada beijo que dávamos, a cada abraço, a cada “eu te amo” que dizíamos eu me lembrava de que tudo aquilo era errado, era fora da “lei”, era vergonhoso por causa daquela conversa que meu pai teve comigo sobre namoro que não fosse com a intenção de casar, sobre namoro antes da idade, sobre namorar por namorar.
E eu sei que isso é ridículo, e que as ideias do meu pai são meio antigas, mas está lá, sempre esteve lá dentro de mim aquele instinto de nunca, jamais fazer o que ele me havia dito para não fazer, nunca fazer o que ele achasse errado, porque se fizesse ele não me aprovaria, eu não lhe daria orgulho, eu não seria a filha perfeita, eu seria uma pessoa ingrata.

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